Mãos do café

Foto: Fisheye

Mãos do café

O trabalho no campo: escravização, imigração aos dias de hoje

Quantas mãos foram necessárias historicamente para trazer o café para o centro de nossas mesas e da economia mundial? Em que condições se deu o trabalho do café historicamente?

O café, que nasce na África e se amplia para o Oriente, se tornou em meados do século XVIII uma bebida central no mundo Ocidental. Com enorme potencial econômico, países colonizadores como Espanha, França, Holanda e Portugal – viram na produção do café uma grande oportunidade de gerar riquezas e manter sua posição exploratória. O projeto colonial – estruturado na escravização, na relação predatória com a natureza e no uso da força e hierarquia das relações – elege o café como tábua de salvação de seu projeto de dominação, em meio à conflitos de independência dos países colonizados.

A produção em grande escala do café nasce, assim, da exploração de pessoas escravizadas, cuja desumanização se traduz na iconografia tradicional cafeeira onde vemos – como se fossem paisagens – crianças e adultos em trabalhos forçados.

Ainda antes da abolição, o Brasil – que tomou o café como um destino ainda no Império e usou seu ativo para financiar a República – empreitou uma política de importação de mão-de-obra estrangeira para o café, na esteira de ideias de embranquecimento do país. Asiáticos, inclusive, não eram uma população desejada para esse projeto, inicialmente.

Os imigrantes, cuja vinda para o Brasil foi financiada pelo governo, substituíram após 1888 toda população de escravizados, que não contou com nenhuma política de apoio ou inserção para essa nova realidade. Para os que chegaram no projeto de estímulo à mão-de-obra imigrante, a realidade do trabalho do café também não foi fácil em função das condições de trabalho precárias e a herança escravista nas relações com os fazendeiros – bastante diferentes do que era difundido em seus países de origem.

As relações de poder só mudaram com a quebra da Bolsa de Nova York em 1929 e falência de muitos dos grandes proprietários de café, que se viram obrigados a vender parte de suas propriedades a seus trabalhadores, dando origem a uma nova classe média de imigrantes e descendentes.

Até os dias de hoje, o trabalho no café tem etapas maciçamente manuais, ainda que contem com a ajuda de maquinários. As etapas de plantio, colheita e secagem em muitos lugares do mundo se dá sol a sol pelas mãos de trabalhadores e a luta para condições dignas e garantia de direitos é algo central até os dias de hoje.

O cultivo, processamento, comércio, transporte e marketing do café empregam milhões de pessoas no mundo. São essas muitas mãos que possibilitam tomarmos nossas xícaras dessa bebida no conforto de nossas casas, cafeterias ou durante nosso expediente.

Armínio Kaiser
Jorge Panchoaga